Eu conheci essa série há pouco mais de um mês. Quer dizer, conhecer, eu já conhecia, pois foi criada por um cara que eu venero, chamado Aaron Sorkin. Porém, na correria do dia a dia, acabei esquecendo dela, até que um colega, em um curso sobre cinema que fiz, me lembrou. Então, no valor do momento, escrevi esse texto no dia em que vi o piloto, e não lembro o que me levou a isso (talvez muito sol na cabeça), mas enviei para minha amiga Nayara, que postou no blog dela (Dignidade não cabe aqui), o que ainda está me matando de vergonha, mas que ironicamente, também foi o responsável por me fazer voltar pra este blog. Aliás, mudei algumas palavras, Nay, mas nada que altere o texto, ok?
Enfim, os primeiros nove minutos desse piloto realmente me impressionaram. De lá pra cá já vi a temporada inteira e devo dizer que o inevitável aconteceu: virei fã. Inclusive, comprei o box da primeira temporada, coisa que só acontece com séries-vício.
Pois vamos a ela.
PODE CONTER SPOILERS!!! (SIM, APESAR DE ODIAR, NÃO CONSIGO ESCREVER NADA SEM ELES)
We just decided to (Piloto)
Direção: Greg Mottola
Roteiro: Aaron Sorkin
Exibido em 24/06/2012
É uma
série de Aaron Sorkin. Com isso, já dá pra se ter uma ideia do que esperar. Diálogos
e cortes rápidos e inteligentes, câmera nervosa em cenas específicas, ótimo
elenco, muita política, personagens falíveis e uma América retratada com falhas, mas de forma
amorosa e sonhadora.
The Newsroom é exatamente isso e me
ganhou já no fantástico trecho inicial de nove minutos.
Dito isso, vamos a ele. Ele começa
exatamente com o protagonista da série, Will McAvoy (Jeff Daniels) observando
com uma expressão irônica, enquanto duas pessoas estão discutindo sobre
política diante de uma plateia formada pelo que parecem ser alunos de alguma
universidade. A discussão continua intensa até que a câmera começa a mostrar
que entraremos na perspectiva de Will. Hora de sermos apresentados a esse cara.
Vemos que ele identificou alguém na plateia, mas que não sabemos se é fruto da
imaginação dele ou não. Então, o mediador do debate o chama e então, “saímos”
de Will. O mediador faz uma pergunta e recebe uma resposta sarcástica. Um dos
alunos da plateia também. Outra resposta sarcástica. Em um dado momento, o
mediador nos informa que Will é âncora de um jornal e que tem o costume de
ficar “em cima do muro”, de não demonstrar suas posições. Passamos a saber mais
isso sobre ele.
E aí vem o ponto chave. O clímax da cena. E
quem via The West Wing está mais do que acostumado a esses momentos, sempre
muito bem feitos e impactantes. Josiah Bartlet, interpretado pelo maravilhoso
Martin Sheen, cansou de nos presentear com discursos hipnóticos desse mesmo
tipo. Nesse momento, uma aluna pergunta a ele o que faz da América o melhor
país do mundo. Os outros dois respondem a pergunta e então, na vez dele, mais
uma resposta evasiva, sendo então,
repreendido pelo mediador que, desta vez, avisa que irá exigir uma
resposta séria. Uma resposta humana. Então, Will olha para a plateia e vê
novamente a mulher de antes com umas placas, enviando mensagens pra ele.
Sentindo-se pressionado e atordoado com a visão da mulher lhe mandando
mensagens, como se tivessem apertado um botão, ele desata a falar absolutamente
tudo o que pensa. A impressão que temos é que há muito tempo ele não fazia algo
assim. Terminado o debate, ele é recriminado pelos outros dois e termina
perguntando: O que foi que eu disse lá fora?
E então, temos a abertura. Enorme! Linda! Eu AMO
aberturas e as de Sorkin são sempre maravilhosas e com uma música linda do tipo
que te faz esquecer todas as besteiras que os EUA fazem, colocar a mão no peito e querer cantar
o hino deles com orgulho. Não precisou de mais nada pra eu já amar a série além
desses nove minutos. O restante do episódio, como já falei, tem tudo o que
caracteriza as séries de Sorkin, e mesmo que você pense “já vi isso antes”,
porque a forma é a mesma, você não consegue desgrudar os olhos da tela.
Primeiro, porque se você fizer isso, certamente perderá informações
importantes, já que é tudo muito rápido. Segundo, porque o conteúdo é muito
consistente. O restante do episódio se desenvolve de maneira primorosa e
arrisco dizer, um dos melhores piloto que já vi.
Qualquer obra audiovisual é isso pra
mim. Não é muito do que se fala, mas como se fala. É muito difícil ser original
hoje em dia. Quase tudo já foi falado. Especialmente sobre política. Mas o modo
como se aborda o assunto é que define se é algo de qualidade ou não.
Particularmente, sou o tipo de espectadora que
não liga para histórias sobre mundos fantásticos, efeitos especiais
mirabolantes e coisas do tipo. Eu gosto do comum. De ver o comum, o dia a dia,
sendo retratado com qualidade, com verdade, com emoção. É isso o que sempre me
comoveu no cinema. Ele transforma o ordinário em arte. Ele faz com que uma cena
de duas pessoas conversando dentro de uma cozinha enquanto picam tomates, se
torne algo grandioso.
E Aaron Sorkin sabe fazer isso como
ninguém. Ele tem uma linguagem cinematográfica própria e utiliza isso na TV de
forma muito inteligente, te levando para o ambiente dos personagens e te
fazendo se sentir como um deles. Dessa vez, ele está apostando em um Dr. House
do Jornalismo (nem tão ácido e nem tão casca dura, mas ainda assim, difícil),
um tanto desesperançado, amargo, cínico e que perdeu o gosto e a direção na
vida, mas que parece estar acordando pela influência daquela mulher da placas
lá do teaser (que também está enfrentando um recomeço) e por todas as pessoas
que ela está trazendo para vida dele. Um homem que estava adormecido realizando
um trabalho no qual não acreditava mais e que aparece com as mãos tremendo ao
se preparar para o programa que significará o seu recomeço. Diante de algo
assim, quando o programa está para começar e aguardamos Will entrar no ar, você
fica ansioso por ele, você torce pra que ele não engasgue ou trave ou sei lá o
que mais. Você torce por ele e está junto com ele naquele momento. Uma série
que consegue te levar a esse ponto merece ser vista, merece atenção e respeito.
E ah...de quebra você já tem dois casais pra shippar, se você for desse
tipo...rsrsrs.
O piloto apresentou um material
muito rico repleto de cenas memoráveis e extremamente atuais sobre o papel do
jornalismo e tem tudo pra se desenvolver bem, pois está em boas mãos. Aliás,
parabéns para o diretor do episódio, Greg Mottola, que também é co-produtor
executivo da série e pra Thomas Newman, responsável pela música.
Não dá pra saber se a série vai
vingar, embora esteja começando sua
segunda temporada e alguns tenham dito que Sorkin escorregou em três episódios
do final da primeira, pois teve que reescrevê-los. Quanto a mim, ele nunca me
deu razões pra desconfiar de seu talento e já sinto nascer um novo vício.
Obrigada, Sorkin. Mais uma vez.
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