domingo, 25 de agosto de 2013

El Secreto de sus Ojos







Esse eu vi ontem. Estou impressionada até agora. Muito bom mesmo. Estava pensando em ir ver um filme argentino que está em cartaz e então tive um estalo de procurar por uns títulos argentinos. Achei uns sete e o escolhido para ser o primeiro foi esse. 

 

 

A vergonha é enorme, mas devo dizer que foi o primeiro filme argentino que vi na minha vida. E pra uma pessoa que se diz cinéfila e que tem o drama como seu gênero preferido, isso é motivo pra enterrar a cabeça na areia e pedir pra pisarem em cima, certo?

 

 

Obs: Coloquei o título original, porque, convenhamos, fica muito mais charmoso em espanhol...rsrsrs.

 







 O Segredo dos seus Olhos (El Secreto de sus Ojos)



Direção:  Juan José Campanella
Roteiro: Juan José Campanella  e Eduardo Sacheri
Ano: 2009




"Como se faz para viver uma vida vazia?
 Como se faz para viver uma vida cheia de "nada"?
 Como se faz?"  

(Benjamin Esposito)




Confesso que sou uma cinéfila fajuta. Eu digo que amo cinema e séries, mas basicamente, só conheço o cinema americano e olhe lá. Hoje, resolvi que veria um filme argentino no cinema, o que acabei não fazendo, pois achei pra baixar (embora não tenha encontrado legenda). E isso me levou a baixar diversos outros filmes argentinos, pois me lembrei de Ricardo Darín, o Tom Hanks deles ou algo assim. Baixei um monte deles. E resolvi começar por um bem famoso, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010, chamado “El secreto de sus ojos”. 


Resultado:  Um filmaço e uma admiração relâmpago por Darín (que me lembrou muito o jeito de interpretar de Richard Schiff, o Toby Ziegler de The West Wing, em alguns momentos).







O segredo de seus olhos é mais que uma história de amor. É uma história de vida. É uma lição sobre como nunca é tarde para reescrever a sua história, mesmo que ela tenha sido repleta de dor e amargura. Mas não pensem que é um desses filmes piegas, que fazem de tudo pra te fazer chorar com o único objetivo de ser chamado de drama. Inclusive, esse  filme tem uns momentos cômicos muito legais.


A narrativa é muito interessante, pois  não é cronológica. O que nós vemos, é a confusão mental de um homem que, ao se aposentar,  resolve escrever um livro, ao meu ver, como forma de auto-análise,  sobre um pedaço de sua história de vida relacionado a uma mulher, Irene (Soledad Villamil),  e a um crime no qual esteve envolvido na investigação e que o tocou intensamente.


A partir daí, vamos conhecendo  tudo o que fez desse homem  o que ele é hoje. A história vai tomando forma e crescendo.  Sempre.  Não há um minuto gratuito neste filme. Tudo é importante para a reconstrução que esse homem está fazendo de seu próprio passado. Ou melhor, para as pazes que ele tem que fazer com esse passado, e conseguir, finalmente, agir com coragem no presente. 


Todas as cenas dele com a personagem Irene são muito bonitas. Um ponto interessante é que ela quer que ele diga o que sente. Ela incentiva e espera, mas ele nunca o faz. E enquanto ele não der esse passo, nada acontecerá e ela continuará vivendo a vida que esperam dela.


E aqui abro um parênteses para o comentário mulherzinha: Confesso que isso me deixou um pouco nervosa, porque embora, você saiba que isso pode acontecer, você também sabe que o que falta é coragem de ambos os lados. Afinal, se ela vê que ele a ama, mas não tem coragem para assumir, porque ela, que aparentemente, me pareceu mais corajosa, não dá esse passo? Está esperando o menino crescer? Talvez seja isso. Fim do comentário mulherzinha.


Eu não sei exatamente o que os impedia de ficar juntos. Eram as vidas completamente diferentes, como Romano (Mariano Argento), o desafeto de Esposito (Darín) demonstrou  em uma cena muito fantástica, diga-se de passagem? Era um conservadorismo exagerado que impedia Esposito de tentar um relacionamento com uma mulher ainda noiva? Era o medo de compromisso de Esposito? Era  o fato de que Irene passou todo esse tempo apenas aguardando que ele dissesse “Eu te amo. Fique comigo"? Era tudo isso junto? Ou não era nada disso? 


Sinceramente,  pouco importa, porque independente do motivo pelo qual a história dessas pessoas acontece,  ao longo das duas horas de projeção, vemos um filme comovente de forma inteligente e bonita como poucos, repleto de atuações primorosas (não apenas dos atores principais), onde muitas vezes palavras nem são necessárias. Você consegue entender o que aquelas pessoas estão sentindo simplesmente pelo olhar, pelos suspiros, pelos enquadramentos.  Tem zilhões de detalhes lindos. E recomendo em especial, prestar atenção no que Esposito escreve no papel quando acorda à noite logo no início do filme. Esse pedaço de papel volta lá na frente e é responsavél por duas cenas muito bonitinhas que me fizeram sorrir feito boba.  Aliás, o filme abusa (muito bem) do recurso de repetições e similaridades. É realmente uma aula de cinema. 






Os olhos, como o próprio título diz, são muito valorizados no filme. Diversas vezes, apenas  eles são enquadrados ou nossa atenção é deslocada pra eles, por meio da falta de foco no resto do quadro. E isso é só mais uma prova do que o diretor quis (e conseguiu) fazer com esse filme: trazer o espectador pra dentro do filme e fazer com que a gente criasse intimidade com aqueles personagens. Ele não tem pressa em fazer isso. As cenas são bem pensadas e demoram o tempo que tiverem que demorar pra que a gente se comprometa com a história que está sendo contada.  Tudo  funciona de forma brilhante.







 Gostaria de destacar também as cenas de Darín com Pablo Rago, que interpreta o marido da mulher assassinada, Ricardo Morales.  São todas muito bonitas e profundas, pois esse homem move o personagem de Darín, já que Esposito admira o amor e devoção que ele sente pela mulher, sendo  também onde ele enxerga o seu próprio calvário e ao mesmo tempo,  o fechamento com o passado e uma chance de redenção.


E ao final, é um daqueles filmes em que você pensa: ok, agora acabou. Mas você está vendo no contador que só se passou uma hora! Então, ele continua e você se pergunta o que mais ele pode querer contar. E mais uma vez você pensa que está acabando, então, você olha o contador novamente e pensa: cara, mas ainda faltam quarenta minutos.  E então, ele continua. E chegando perto das duas horas, você pensa: agora acabou, certeza!  E ele continua por mais alguns minutos, porque afinal, ainda restam uns cinco minutinhos pra ele te impressionar mais um pouco. Até que o momento derradeiro finalmente chega e ele realmente acaba. E então, você pensa: será que não poderia durar só mais três minutinhos? Por favor!!!




Agora sim, feche a porta! (Pra entender, assista)

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