domingo, 29 de setembro de 2013

Doubt







 Dúvida (Doubt)


Direção:  John Patrick Shanley

Roteiro:  John Patrick Shanley

Ano: 2008





“O que você faz quando não tem certeza?”  

(Padre Flynn)


“- O que é, irmã?
 - Eu tenho dúvidas.”  

(conversa entre irmã James e irmã Aloysius)


Que filme!!! Não bastasse Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman, ainda temos uma participação mais que especial da também incrível Viola Davis. Amy Adams também participa do filme como uma freira ingênua e insegura. Um pêndulo no relacionamento entre padre Flynn e Aloysius Foi de quem menos gostei, mas fez o seu papel. Provavelmente, é porque não gosto muito da atriz mesmo. E foi então que descobri em um site de cinema que inicialmente, a atriz chamada para fazer o papel de irmã James era Natalie Portman!!!! PQP!!! Imagine Natalie, Meryl, Philip e Viola em um mesmo filme!!!! Caaaaaaaaaaara, posso matar Natalie por não ter aceitado???


O filme se sustenta em diálogos, expressões, respirações, sugestões... É basicamente um filme de atores. Seu tema é a dúvida. Devemos agir, mesmo sem ter a certeza de algo? A personagem de Meryl acreditou que sim.  Não existiam provas de que Padre Flynn estivesse realmente aliciando o garoto Donald, mas diante de relatos da irmã James (também incertos, o que me lembrou a menina do filme "Desejo e Reparação") e de observações dela própria (talvez contaminadas pelo fato de ela já não gostar do padre), não poderia se dar ao luxo não fazer nada, mesmo que suas ações baseadas em incertezas pudessem corroê-la no futuro. Algo maior estava em jogo.




O filme tem uma fotografia magnífica e atuações brilhantes. Ainda pretendo vê-lo de novo, pois algumas partes do filme ainda ficaram obscuras pra mim. Como é um filme que sugere muito mais do que diz, até porque a grande questão do filme é a incerteza (e isso foi conduzido de forma absurdamente competente  pelo diretor. O filme respira incerteza), muitas coisas ficam subentendidas e outras nem mesmo isso. São deduções e entendimentos que o próprio espectador deve procurar. Eu não achei todas as motivações e explicações  e quanto mais penso sobre o filme, acredito que entendi menos ainda. Como por exemplo, a cena em que irmã James se descontrola com um aluno e o manda à sala da reitora.  Esse menino também sofria abusos? E o outro menino loiro que vivia aprontando para ficar fora da escola? Ele também era aliciado? Ou será que nenhum deles era e padre Flynn só não conseguiu suportar todas as desconfianças de Aloysius? O que fez irmã James acreditar em padre Flynn? O fato de estar se transformando na irmã Aloysius e não conseguir suportar esta ideia ou a vontade de acreditar nos ideais de padre Flynn?




Aliás, essa marcação de diferentes universos aparece bastante no filme. Ele é bem claro ao mostrar o mundo dos homens (com mais poder e mais liberdade) e o mundo das mulheres (mais rígido e submisso) da época. A cena das refeições é o melhor exemplo disso. Enquanto padre Flynn ri e conta piadas em seu jantar, irmã Aloysius se limita a fazer sua refeição em silêncio com as outras freiras, enquanto ajuda uma delas, já com problemas de visão (e por causa disso, com possibilidade de ser expulsa, representando talvez, o descarte do que não é mais útil) a encontrar seus talheres. Eles reproduzem os dois lados do mundo: opressor para uns e libertário para outros. No meio disso, está irmã James, que possui um pouco dos dois mundos dentro de si.




Outra cena genial é a conversa entre irmã Aloysius e a sra. Miller sobre Donald e suas suspeitas. Além de ser o primeiro negro  admitido naquela escola, o que por si só, já deixava o menino em uma situação desconfortável, deu a entender que o pai do garoto havia descoberto alguma coisa, pois sra. Miller diz que a surra que o filho levou não foi pelo vinho que Donald havia bebido. Diante disso, existia apenas uma mãe que queria que o filho tivesse alguma oportunidade na vida, que também não entendia muito bem o que estava acontecendo e que estava disposta a passar por cima até mesmo de um suposto relacionamento impróprio entre o filho e padre Flynn, para que isso acontecesse. Afinal, seria "apenas" até junho. Nessa cena, eu pelo menos, me vi agindo como a personagem de Meryl a princípio, indignada com o que estava ouvindo daquela mãe, até perceber que ela também não sabia o que fazer, que também estava perdida. E esta talvez fosse a única oportunidade que seu filho teria em um mundo que ainda não tinha espaço pra ele. Como tirar esta oportunidade das mãos dele? Como afastá-lo da única pessoa que parecia aceitá-lo, mesmo que isso significasse suportar coisas inaceitáveis? A verdade é que ali, estavam conversando duas mulheres completamente diferentes (repare no figurino de cores opostas), com histórias de vida completamente diferentes e uma não tinha nem ideia do que a outra já passou, logo, não havia espaço para julgamento. Apenas para decisões a serem tomadas ou como a própria Aloysius diz, para ações. Era só o que importava. E diante de tantas incertezas, como agir? Ou pior: devemos agir?




É o tipo de filme que só poderia ter sido feito por feras mesmo, pois ele depende unicamente de atuações, de pessoas que possam transmitir (ou não), toda a confusão mental daqueles personagens.  Não que premiações sejam a única maneira de provar que um filme é bom, mas o filme foi indicado a cinco prêmios Oscar: atriz (Meryl), atriz coadjuvante (Viola e Amy), ator coadjuvante (Philip) e roteiro adaptado. A mesmas indicações para o Globo de Ouro e três indicações para o Bafta. Mais que merecidas!!! "Dúvida" é um filmaço!!!


Agora, ignore Amy Adams, imagine que é Natalie Portman (e ignore também a barriga de Leo Jaime de Philip) e sorria feito bobo com a qualidade do elenco:



Té!

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